14 janeiro 2008

EMPREGO E PROFISSÃO DE ANIMADOR(a)

O emprego, independentemente das profissões, está hoje no limite. Vai servindo as gerações mais velhas e menos qualificadas. Enquanto estas dão, progressivamente, entrada na reforma, as outras gerações, as mais novas, vão tendo uma resposta do emprego pouco significativa. O paradoxo está no facto de serem gerações cada vez mais qualificadas.

O emprego único e para toda a vida, como lugar de cultura de sobrevivência e de afirmação profissional, terminou. O seu lugar está a ser preenchido pela diversidade ocupacional, fruto das formações cada vez mais específicas e, paradoxalmente, cada vais mais acumuladas numa só pessoa.

A Animação, no seu sentido polissémico e na diversidade das suas modalidades, tal como outras áreas do conhecimento, das técnicas e das tecnologias, está também a sofrer o desgaste da ausência de oportunidades da sua afirmação. O animador(a) tal como o(a) vemos hoje é também um(a) profissional em mudança. Paradoxalmente uma mudança que parte de indefinições institucionais e que o(a) tornam um(a) profissional fragilizado(a). A diferença deste(a) profissional em relação a muitos outros, de outras áreas, é a de que ainda não teve espaço nem tempo para afirmar um perfil, uma função e também os seus estatutos profissionais.

Apesar de tudo, desde que existe a formação profissional e académica de animador(a), acerca de 15 anos, o espaço, as funções, as tarefas e as responsabilidades em que se envolveu formam elementos constitutivos de mudança social. Ressalta daqui, portanto, a importância desta profissão e a necessidade urgente de afirmá-la. Cabe, como já o disse noutra altura neste blog, às associações representativas de classe, às organizações empregadoras, às instituições de formação e aos animadores individualmente, a responsabilidade dessa afirmação. Esta razão só por si justifica, também já aqui o afirmei, a imediata realização de uma Conferência Internacional sobre a profissão de Animador(a). Não faz sentido, neste momento, continuar a discutir-se questões teóricas da animação. É uma dimensão demasiado insistida, já afirmada, fundamentada, com autores prestigiados, com obras de referência, etc. Mas é uma discussão meramente, e só, académica, no sentido literal. Eleva o ego dos investigadores, professores e instituições, mas vai descurando a motivação e a esperança dos profissionais de animação. A minha insistência na realização, a curto prazo, dessa conferência internacional sobre a profissão de animador(a) resulta da responsabilidade que exerço sobre mim, na minha qualidade de professor e de investigador, mas também na minha história pessoal como animador cultural, que o sou, desde os meus 16 anos.

Esta pequena reflexão resulta de uma preocupação permanente que transporto no meu espírito. Se é verdade que vou dizendo aos meus alunos(as) que devem arriscar em projectos com equipas pluridisciplinares, e será esse o seu futuro, não é menos verdade que continuo a insistir junto de potenciais empregadores para a importância deste profissional no seio das suas organizações. A forma de dar relevo a esta função e práticas poderá ser facilitada, hoje, através de projectos a realizar ou já realizados, divulgados via Internet em blogues ou sites específicos. São espaços de partilha importantes, não só do ponto de vista do estudante ou profissional da animação, como também das próprias organizações empregadoras e instituições de formação. Esta é uma experiência que tenho vindo a realizar conjuntamente com os(as) meus alunos(as) finalistas e que me leva a reconhecer ser um instrumento inadiável na formação e na profissão emergente.

Voltando à Conferência Internacional sobre a profissão de Animador(a) e aos documentos que daí poderão surgir e que pressionarão não só as organizações mas também as decisões políticas, nomeadamente alterando o que já foi legislado sobre a profissão de animador, parece-me dever ser uma iniciativa das associações de classe, especialmente da APDASC, ANASC e outras que porventura existam e tenham representatividade profissional. Por outro lado cabe também a cada um(a) dos(as) animadores(as) criar dinâmicas que constituam também elas mudanças importantes na profissão. Para isso devem participar no movimento associativo/profissional, integrando ou criando novas associações profissionais. Por exemplo, a APDASC vai eleger hoje, dia 14 de Janeiro, novos corpos gerentes, sendo interessante a participação plena dos seus associados.
Ao mesmo tempo que projecto o desejo de que possam aparecer outras associações, reformulo também votos de que a ANASC, que tem história no movimento da Animação Sociocultural em Portugal, possa e deva renascer com a ATITUDE que fizeram dela uma referência indispensável na reflexão da animação sociocultural em Portugal.