02 dezembro 2007

OS CAMINHOS DA FÉ

O encontro realizado em Roma há pouco mais de um mês entre os Bispos Portugueses e o Santo Padre terá contribuído para alguma alteração significativa da Igreja Católica em Portugal?

Foi notório no discurso de Bento XVI uma preocupação no sentido da Igreja fazer um esforço para se adaptar às novas realidades e ao mundo moderno. Consciente da perda de fiéis mas, mais ainda, do declínio das vocações sacerdotais que, em última análise, são eles que contribuem para o aumento de católicos praticantes em todo o mundo, o Papa sublinhou a importância dos bispos e dos sacerdotes poderem e deverem estar mais em contacto com mundo, com os fiéis e com aqueles que não o sendo, ainda o poderão vir a ser. Apelando aos valores da Fé e da Universalidade mostrou no seu discurso a importância de se praticar o culto da humildade e da não ostentação da riqueza material mas sim da riqueza espiritual.

O que temos vindo a notar no quotidiano, nalgumas práticas sacerdotais, mas também nalgumas funções episcopais, é uma certa distância e um pouco de presunção e água benta na forma como uns e outros se relacionam com as comunidades.

O sacerdote é um trabalhador da espiritualidade e o bispo um pensador na Fé. Será nesta articulação que a função religiosa deve ser cumprida em proximidade absoluta, em irmandade profunda.

Cada um de nós tem o seu tempo e espaço de reflexão espiritual. Cada comunidade tem o seu culto e as suas tradições calendarizadas no tempo e no espaço que definiu. Para ambos, as situações poderão ser alteradas em função de novos interesses e de novas necessidades.

Não dá para entender certos comportamentos de alguns clérigos; pela arrogância, pela distância que estabelecem com os seus paroquianos, pela atitude assumidamente divinal, como se eles fossem o próprio Deus. Isto acontece porque dificultam muitas vezes ou não chegam mesmo a realizar casamentos ou baptizados, apenas porque um dos protagonistas desses eventos é comunista, ou não é casado ou baptizado pela Igreja, ou porque, simplesmente, é toxicodependente ou gay. Enfim, existem atitudes diversificadas que não ajudam em nada a causa da Igreja e, muito menos, ajudam a Igreja a credibilizar a Fé e a aumentar o número dos seus crentes.

Então há horas para morrer? Um senhor padre, de uma paróquia do Alentejo, não quis hoje fazer o funeral de uma pessoa por quem eu tinha uma grande estima, porque tinha muitas missas marcadas… Amanhã também não o poderá realizar porque tem outros afazeres!

Com que indignação poderá ficar aquela família, crente, quando necessitava de ajuda espiritual e acompanhamento para o seu ente querido e lhe foi recusado com desculpas que não lembram aos céus. Recusas que ajudam a desmistificar as crenças e a desacreditar a própria Fé. Mais ainda com a ajuda de quem a deve praticar e difundir.

Situações destas ou análogas acontecem mais vezes do que deveriam acontecer. Os padres e os bispos são homens e erram como qualquer mortal. Mas têm uma responsabilidade acrescida: o de serem melhores homens e melhores mortais, justamente porque falam da imortalidade.

A imortalidade dos afectos e das memórias, para a família e amigos do senhor José António Pombo, de Assumar, ficará sempre escrita na história de cada um deles. Pelo que deram mas, sobretudo, pelo que receberam. Apesar do padre não cumprir as suas responsabilidades espirituais, éticas e morais, não celebrando a missa de corpo presente e não acompanhando o féretro até à sua última morada, os cristãos, esses, cumpriram o seu ritual de amor, de fé e de universalidade.