11 novembro 2007

UM POR CENTO?

Um por cento? Não brinquem mais connosco que morremos dessa coisa estranha que é ter uma profissão cultural.”
Fernando Mora Ramos: “Um em cada cem”. Jornal PÚBLICO, sábado, 10 de Novembro de 2007.

A crítica feita pelo Fernando Mora Ramos, e não Moura Ramos, encenador e meu companheiro co-fundador da Companhia de Teatro do Centro Cultural de Évora, actual CENDREV, mas também fundador da Companhia de Teatro da Rainha, nas Caldas da Rainha, é bastante pertinente. O modo arrogante, “o Governo tem de definir prioridades”, como o um por cento do Orçamento de Estado é anunciado pelo Governo para a Cultura só revela, de facto, não haver interesse no presente, como não houve no passado, que este país se desenvolva de uma forma harmoniosa e sustentável. Para que isso aconteça é fundamental também um investimento muito mais profundo na Cultura.

É urgente, para se acelerar o desenvolvimento do país, que se enuncie uma política eminentemente cultural para todo o território, pois como refere FMR “a História ensina que não há transformação sem uma base cultural forte.” É preciso que as prioridades do Governo incidam sobre a língua e o desenvolvimento intelectual dos portugueses, mas também sobre a criação estética, o conhecimento dos clássicos, a recuperação patrimonial, sobre uma política do livro, da edição à leitura, mas também sobre a programação dos teatros nacionais e regionais, enfim é preciso que o Governo crie prioridades de desenvolvimento cultural tout court. Nas linhas orientadoras desta política cultural deve referir-se, também, um outro empenhamento por parte do Poder Local, balizando-se algumas estratégias e obrigações comuns a todo o território, de forma a tornar mais justa e distributiva a acção cultural a empreender e a desenvolver.

A vigorar o um por cento do orçamento a atribuir à Cultura ficarão sempre muitas expectativas por concretizar e muitas respostas por dar, nomeadamente aquelas lançadas pelo FMR, mas também outras que o cidadão comum faz, cada vez mais consciente da sua cidadania, por sentir novos interesses e novas necessidades.

A democratização da cultura só será assumida na plenitude quando a igualdade de oportunidades, nos planos da fruição e criação culturais, for legitimada, não só pelas leis, mas também pela institucionalização e obrigação de uma prática cultural generalizada.

Um por cento? É a Cultura estúpido!