28 outubro 2007

EVENTOS INADIÁVEIS

CONFERÊNCIA NACIONAL SOBRE EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
(Porto, 29, 30 e 31 de Outubro de 2007 - Casa da Música)
No espaço de ano e meio realizaram-se duas conferências semelhantes: o Congresso Mundial da InSEA em Viseu, entre 01 e 05 de Março de 2006, e a Conferência Mundial sobre a Educação Artística, entre 06 e 09 de Março de 2006 no CCB, organizada pela UNESCO e pelo governo português. Ao longo dos anos vão acontecendo eventos desta natureza para objectivos claros de institucionalização das artes na educação em Portugal. Se olharmos a história recente em termos da educação artística neste país verificamos contudo um decréscimo de responsabilidades dos governos no que concerne à legitimidade dessa institucionalização nas escolas (todos os níveis de ensino). Por exemplo na formação de professores e de educadores temos vindo a perder espaço na mancha horária que compõem os currículos; nos espaços formais da educação de crianças e de adolescentes o panorama da formação artística tem sido desvalorizado em favor de uma pseudo-formação no período de extensão curricular. Enfim, as artes continuam, até quando, a serem parentes pobres da formação intelectual, cívica e escolar das populações?
Vamos partir, e lá estarei como formador mas também como coordenador do curso de educação artística da ESE de Portalegre, para mais um grande evento sobre esta matéria. Muito gostaria que as decisões da UNESCO relativamente à Arte e à Cultura tivessem, definitivamente, uma estratégia de desenvolvimento e implementação junto das populações, de todas, mas particularmente das mais desfavorecidas.
Com que legitimidades se publicitam rankings das melhores escolas do país e, a existirem, estarão quase todas no litoral do país, onde o acesso à fruição cultural e artística se faz com mais facilidade. Sabemos afinal, quem cá vive, no interior do território, a vivência cultural e artística dos jovens, e não só, não é prenhe de oportunidades que fomentem a fruição artística e, portanto, a criação de hábitos e de públicos. Sabemos também que não existem condições para a criação artística, portanto, para a criação de práticas artísticas. Esperemos que desta Conferência Nacional saiam decisões que ajudem a alterar o panorama da educação artística em Portugal.
CONGRESSO SOBRE A PROFISSÃO DE ANIMADOR
Nos últimos anos têm acontecido congressos, conferências, encontros e fóruns sobre animação e animadores, mas sempre do ponto de vista da contextualização teórica. Se, porventura, alguma abordagem se fez à questão da profissão, ela foi ténue e sem impacto, o que nos permite dizer hoje que nada se fez sobre os estatutos, sobre a identidade profissional e sobre a profissão num quadro normativo e legal que a institucionalizasse. O resultado viu-se recentemente na reestruturação das carreiras da administração pública: a profissão e a função saem profundamente fragilizadas
Isto é tanto mais grave, quando nos últimos doze, treze anos as universidades e os politécnicos têm vindo a contribuir para a proliferação de cursos sobre animação e sobre a formação de animadores e pouco, ou nada, direi mesmo, têm contribuído para a institucionalização da profissão. Uma responsabilidade extensiva ao Ministério da Ciência e do Ensino Superior que tem permitido essa proliferação de cursos.
Há aqui um dever moral destas instituições, sobretudo, quando o que está em causa é a saída de jovens com determinada formação, realizada no seu seio, com pouca correspondência com o mercado de trabalho. Essa pouca correspondência não é tanto pela ausência desse mercado, mas é mais pela indefinição da profissão e da carreira profissional. O Ensino Superior não tendo que estar preocupado com o mercado de trabalho, tarefa dos governos, não deve contudo estar marginalizado dessa preocupação. Por isso tem uma responsabilidade conjuntural de reivindicar junto dos governos mais clareza institucional e profissional sobre os cursos que lecciona.
Neste sentido apelei, através do Forum da APDASC, às poucas organizações de classe dos animadores, ainda com pouco significado associativo, e aos próprios animadores, da pertinência e urgência na realização, com a maior brevidade possível, de um Congresso sobre a profissão de Animador. Alguns desabafos iam no sentido de ser um Evento difícil de organizar pelos custos avultados que comportaria esse Congresso, para além das questões logísticas. Concordo. Todavia penso que a iniciativa desse possível Congresso deve partir das estruturas de classe, permitindo-lhes a legitimidade de reivindicar apoios, financeiros e outros, junto das universidades e politécnicos que leccionam cursos nesta área.
É urgente a realização deste Evento, em parceria com o maior número possível de instituições de formação assim como de outras organizações. Dele deve emanar uma mensagem reveladora de uma coesão de classe, relativamente à sua profissão e aos campos emergentes da carreira profissional. Deste Evento, deve sair também um documento de peso, com propostas sérias e conclusivas, de forma a ser apresentado ao Governo de Portugal e à Assembleia da República.