07 outubro 2007

CERÂMICA DE SACAVÉM



Esta peça faz na próxima semana 55 anos, altura em que, com os meus 3 anos, ela foi realizada em exclusivo para me ser oferecida no meu aniversário.
Trata-se, portanto, de uma peça pessoal, embora obedeça a um modelo muito próximo daquele que estava em vigor na época elaborado pela Fábrica de Loiça de Sacavém.
Junto a esta peça tenho mais de uma vintena de outras, raras, que fazem parte de um acervo para um futuro museu privado de loiça desta marca.

Quais são as motivações que me levam a coleccionar cerâmica da Fábrica de Loiça de Sacavém (FLS)? Antes de mais são motivações de ordem afectiva. Estou ligado à FLS desde a minha infância, altura em que pelo Natal beneficiava das prendas e lanches da época; estou ligado também porque a história familiar esteve associada à história operária da fábrica durante cinco décadas; finalmente estou ligado afectivamente à FLS pela importância social e cultural que, durante dez décadas, foi relevante na freguesia, hoje cidade, de Sacavém, donde sou natural.

Hoje já não existe a Fábrica de Loiça de Sacavém. No seu lugar, no seu espaço físico, real, existe o Museu da Cerâmica, com o célebre forno principal, onde muitas gerações de operários daquela região labutavam 8 horas diárias para levar para casa um salário que, neste país, demorou décadas para ser justo e aceitável para as famílias operárias portuguesas.

O Museu da Cerâmica vale a pena ser visitado. Para além de uma forte dimensão simbólica que transporta para as populações daquela terra, saudade, juventude, mas também sofrimento, mostra-nos também uma forte componente artística desenvolvida pelos mestres pintores de cerâmica que passaram pela Fábrica de Loiça de Sacavém.

Para além de uma componente de exposições, uma fixa e outras itinerantes, o Museu da Cerâmica realiza encontros internacionais, publica resultados de investigações e mantém uma componente educativa e de animação sempre bastante activa, que o levou a projectar-se para além fronteiras e a ganhar prémios internacionais de grande prestígio.

Ninguém me encomendou este post.
Confrontado com a peça acima mostrada, que me reenviou para a minha infância e para um aniversário já muito longínquo, mas também consciente de um trabalho meritório que acompanho, com muito interesse, desenvolvido pela direcção do Museu e pela Câmara Municipal de Loures, não resisti a homenagear todos aqueles que durante décadas contribuíram para a construção e divulgação de um património cultural e social tão significativo no panorama nacional. Se vasculharmos os sótãos e os patrimónios domésticos das famílias, de certeza que encontraremos muitas peças, outrora funcionais, e que hoje fazem parte de um património colectivo e afectivo da população portuguesa.