30 setembro 2007

A UNIVERSALIDADE DOS HOMENS

O que têm em comum dois homens como Marcel Marceau e Álvaro Santinho?
O primeiro é, sem dúvida nenhuma, um cidadão do mundo.
O segundo é, claramente, um cidadão do lugar.
O primeiro é conhecido globalmente.
O segundo é estimado localmente.
O primeiro maravilha-nos pela linguagem do mimo.
O segundo encanta-nos pelos sons do violino.
O primeiro faz poesia com o silêncio.
O segundo veicula alegria com a música.

Não se cruzaram entre si.
Mas cruzei-me eu com eles, em tempos e espaços diferentes.
Com o primeiro, em 1979, durante um estágio de mimo que fiz na sua École International du Mimodrame em Paris.
Com o segundo, a partir de 1986, na cidade de Portalegre, onde em comum tínhamos o prazer de interpretar música popular portuguesa.

Com o primeiro aprendi a encher-me com o meu próprio corpo recorrendo às técnicas de mimo de que me apropriei em Paris.
Com o segundo aprendi a ouvir a palavra jovem, como processo de um envelhecimento sereno, jovial e feliz.

Morreram ambos a semana passada, com mais de oitenta anos.

O silêncio e a música eternizaram-se com a singularidade de ambos.

Singularidades que os tornam a meus olhos homens universais.

O primeiro, recordá-lo-ei com admiração.
O segundo, estimá-lo-ei para toda a vida.