09 setembro 2007

RETORNO, MAS SUAVE

Tenho sempre alguma dificuldade em reatar hábitos instalados quando, por qualquer motivo, permito-me usufruir de uma pausa sobre a rotina. Quando se trata de pausa para umas férias dedicadas à família e à ociosidade a questão ainda se torna mais dolorosa, sobretudo, quando esse reatar é, no fundo, retomar um conjunto de compromissos associados ao nosso projecto de vida. Creio que isto é comum à maioria das pessoas.

Enfim, tenho de fazer esse esforço, normalizando a socialização para além da célula familiar. Devo, obrigatoriamente, reintegrar-me no discurso do quotidiano, tentando ser, a partir dele, um dos seus protagonistas. Esta é a nossa condição de cidadania absoluta.

A minha primeira observação, no início desta temporada 2007/2008, é constatar que o processo de Bolonha estará praticamente implantado em todo o ensino superior português. Com ele vamos ter de nos adaptar todos, literalmente, a novos paradigmas e a uma nova cultura de ensino superior europeu. Provavelmente esta adaptação vai sendo burilada até 2010, data limite. A partir daqui inicia-se verdadeiramente o ensino superior europeu em toda a Europa, com as vantagens e desvantagens inerentes.

A propósito das desvantagens, começam a sentir-se já algumas dificuldades na afirmação de alguns cursos portugueses no espaço europeu. Disso nos dá conta José Vieira no seu blog, http://anijovem.blogspot.com, quando questiona “Quanto vale uma licenciatura portuguesa em Animação Sociocultural no mercado de trabalho europeu?” ao dar espaço a uma jovem licenciada em ASC em Portugal que procurou emprego em França e que a dada altura dizia: "apesar de ter uma licenciatura em Animação Sociocultural, isso não me ajuda muito, porque aqui para trabalharmos na Animação, é preciso um diploma passado em França". José Vieira concluía que: “Assim, e com o objectivo de não ter de fazer uma nova formação, necessita de elaborar um dossier que lhe permita validar a sua formação e experiência prática na área da Animação”.

A minha segunda observação vai no sentido de me regozijar com a possibilidade de os estudantes do ensino superior poderem recorrer à Banca solicitando empréstimos que lhes permitem realizar os seus estudos superiores. A questão que me pode preocupar é que, associada a esta medida, a acção social escolar possa ser descurada a breve trecho. As Associações de Estudantes deverão estar atentas.

Outra observação, a propósito de comentários feitos pelo José Vieira e pelo Albino Viveiros http://animasocioculturaleinsularidade.blogspot.com nos seus blogs. Uma vez mais a questão dos estatutos e da carreira de animador estão em discussão e na ordem do dia. Na reorganização das profissões/quadros da administração pública, realizada recentemente, a carreira/estatuto de animador sociocultural sai absolutamente fragilizada. A profissão de Animador Sociocultural está traduzida exclusivamente num Animador Sociocultural de Bibliotecas. Em contrapartida emerge, com maior ênfase, a carreira de animador cultural, provavelmente pressionada pelos lobby da cultura, das artes e da gestão cultural, elites situadas nas duas maiores cidades portuguesas. É estranho que os estudiosos e os práticos da ASC não tenham sido ouvidos no sentido de se questionar a importância desta área e a forma como se deveria estruturar a carreira de animador. Estão a dar importância a uma das modalidades tout court de animação, reatando-se um período da história da animação, já ultrapassado, que se apoiava numa prática essencialmente artística da animação. Hoje a realidade sociológica e epistemológica da animação é profundamente diferente. Vale a pena pensar se o conceito que se pode introduzir, para não criar mais clivagens e injustiças socioprofissionais, poderá ou não ser aquele outro fundamentado por Jean-Claude Guillet, o de animador profissional.

Ainda sobre a Animação. Temos de estar todos, sócios da APDASC, e não sócios, no jantar do 2º aniversário que irá decorrer no próximo dia 22 de Setembro em Santa Maria da Feira. Será naturalmente um espaço de festa, mas também de reflexão.

Também regozijarmo-nos pela saída muito próxima da Revista on line “Práticas de Animação” publicada pela APDASC da Madeira, nomeadamente pelo Albino Viveiros seu responsável.

Finalmente.
A Expressão Dramática, a Arte Dramática, o Drama, o Teatro na Educação, expressões utilizadas em contextos e culturas diferentes, mas que no fim de contas traduzem uma realidade comum, o Teatro enquanto prática artística mas também pedagógica ao serviço da educação formal e não-formal. Estes conceitos vão sendo cada vez mais objectos de estudo em Portugal, através de dissertações de mestrado, mas sobretudo de teses de Doutoramento. Tenho vindo, nos últimos anos, a fazer parte de júris de doutoramento, em cujas teses estas realidades têm sido estudadas profundamente. A próxima que aprofundará este objecto, pela experiência e estudo da sua autora, acrescentará, estou certo, elementos preciosos a esta problemática. Estou a falar-vos da minha amiga e colega Júlia Correia, professora na ESE do Porto, companheira no Conservatório e co-fundadora comigo, e com outros, do Centro Cultural de Évora em Janeiro de 1975, hoje CENDREV. Força Júlia, bom trabalho.