17 setembro 2007

REFLECTIR É PRECISO…

Quando tomo consciência da minha vida, dos meus compromissos, dos meus afectos, dos meus projectos, vejo quase sempre uma estrada longa por percorrer, ao mesmo tempo que sou invadido por dúvidas quanto à capacidade de fazer esse percurso. Nesta análise, tão rápida quanto efémera, é o mundo de imediato que me assola e me faz desacreditar daquilo que observo. Naquele momento desejaria ter um mundo melhor para mim e para todos.

Quando reforço a consciência sobre a minha vida, os meus compromissos, os meus afectos e os meus projectos, vejo, afinal, que existe a esperança e o meu contributo para melhorar esse mundo, todos os dias e a todas as horas. Basta olhar à minha volta: o sorriso do Manuel, meu único neto e totalizador dos nossos afectos; mas também de toda a família, a nuclear e a mais distante, assim como dos amigos, companheiros e cúmplices do quotidiano. Afinal o mundo gira em torno dos afectos e das referências que transportamos e que nos equilibram os sentires, a memória e as decisões.

Pois é, há dias que temos formas de sentir e de mostrar esse sentir. Provavelmente hoje é um desses dias, em que as dúvidas me assaltam e parecem forçar a existência, falsa seguramente, de um descrédito pelo meu país. Será que muita da incapacidade de valorizar este país se deve aos políticos que o têm governado, ou se deve a cada um de nós, pela nossa desmotivação e não empenhamento. Será que se deve mais aos ricos, que são cada vez mais ricos e não abdicam de enriquecer de maneiras tão airosas, quanto enganosas muitas vezes. Ou, por arrastamento, se deve aos pobres, cada vez mais pobres, que não conseguem a coragem para reivindicar o direito pleno de cidadania.

Temos o interior do país a sofrer cada mais vez a sua interioridade: no pouco ou nenhum investimento público, na ausência de uma política de discriminação positiva, nos resultados das candidaturas ao ensino superior, na desertificação e no envelhecimento precoce das populações. Temos, no interior do país, a criação permanente de heróis que lutam contra moinhos gigantes em busca de Dulcineias que lhes tragam o direito de existir com dignidade.

Mas, no nosso percurso de vida, vamos encontrando lenitivos de esperança, reflectida a partir de espelhos que nos projectam a solidez de se ser pessoa. E vamos tendo muitas pessoas que projectam, em cada um de nós, essa esperança, no caminho a percorrer. Por vezes lembro-me de pessoas simples, de gestos simples e nobres e que merecem que se fale delas. Já referi aqui algumas que fui encontrando pela minha vida, assim como de outras que reflectem ou actuam de forma articulada entre a razão e a emoção. Também já aqui falei de algumas dessas pessoas. É afinal neste percurso que encontramos, felizmente, a nossa humanidade. Aquela que nos identifica como seres humanos maravilhoso.