25 setembro 2007

A NOVA TEMPORADA

A nova temporada cultural e artística iniciada já em Setembro por algumas instituições, como o Teatro D. Maria e a Culturgeste e outras a começar em Outubro na Gulbenkian e no CCB, traduz a institucionalização de uma programação de grande qualidade, ao mesmo tempo que vai implementando a criação de hábitos e de práticas culturais nas populações.

A Culturgeste, o CCB e a Gulbenkian têm desenvolvido, nos últimos anos, uma programação diversificada, de elevado patamar artístico, mas também democratizadora, sem que isso se tenha transformado numa ideia de programação massificada ou de cultura de massas. Pelo contrário, existe nessas programações uma preocupação pela formação de públicos, que se traduz paulatinamente na formação de gostos e de estéticas diversificadas.

O Teatro D. Maria, pelas mãos do Carlos Fragateiro, apresenta também uma programação com as mesmas preocupações, ao mesmo tempo que “foge” ao modelo de Teatro Nacional de reportório muito restritivo em que, por alguns, era reivindicada uma ideia de reportório exclusivamente clássico. O Fragateiro encontrou, quer queiramos quer não, durante os anos que esteve à frente do Teatro da Trindade, a fórmula eficaz de captação públicos, transformando a arte numa expressão popular e não populista como outros tentaram demonstrar.

Aproveitando esta ideia da qualidade dos produtos artísticos e culturais nos grandes centros urbanos, nomeadamente em Lisboa e no Porto, vale a pena lembrarmo-nos que, pelo interior do país, existem espaços onde muitos destes projectos poderiam ser apresentados. Fala-se muito em Rede, mas aquela que está implementada pelos circuitos dos Teatros Municipais e Centros de Artes do Espectáculo deixa muito a desejar no que diz respeito à qualidade dos objectos artísticos aí apresentados.

É altura dos políticos locais, nomeadamente aqueles que têm a seu cargo o pelouro da cultura e da acção cultural das autarquias, acreditarem que existem técnicos com formação capazes de fazerem uma programação para esses espaços. Para além da qualidade dos objectos artísticos e culturais aí apresentados, estes técnicos desenvolvem estratégias adequadas no sentido da promoção e divulgação culturais, assim como da criação e formação de públicos.

Por outro lado, a pertinência e a existência de uma rede cultural e artística, cujas parcerias andariam em torno do Ministério da Cultura, Autarquias Locais e Instituições Artísticas e Culturais de qualidade reconhecida, isto é, validada, poderia viabilizar um intercâmbio cultural e artístico entre todo o território nacional. Assim, da mesma forma que um projecto artístico dos grandes centros urbanos poderia descer às regiões bem mais periféricas do território, também deste poderiam circular objectos artísticos de qualidade, que os há seguramente, pelo resto do país. Só se pode falar de democratização da cultura quando todos nós tivermos as mesmas oportunidades de fruição e participação cultural. Da criação também podemos falar um dia destes. Mas dela depende, seguramente, a oportunidade e o sucesso do patamar anterior.