10 julho 2007

A INVESTIGAÇÃO EM ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL

Depois de 100 teses de doutoramento e de 30 anos passados, a realidade da ASC em França não é, afinal, tão consensual como às vezes nos querem fazer crer. Mesmo na definição dos estatutos profissionais existe alguma confusão provocada pela a excessiva diversidade de funções e de áreas de intervenção.

É por essa razão que Jean-Claude Gillet e outros teóricos e práticos, mas também os políticos, iniciaram um processo de reconciliação nacional com a profissão. É mais fácil gerir toda esta problemática, designando os animadores e a animação apenas como Profissional (Animação Profissional e Animadores Profissionais)

Esta confusão dá-me cada vez mais razão e legitimidade epistemológica para defender a ideia de que a ASC deve ser o ponto de partida em termos da formação inicial (1º Ciclo) e que, só depois desta, fica então em aberto o espaço para a formação do 2º ciclo nas especialidades ou modalidades de Animação.

Esta apreciação surge na sequência de uma investigação terminada em Março de 2007 por dois sociólogos do INJEP (Institut national de la jeunesse et de l’éducation populaire), Francis Lebon e Emmanuel de Lescure, com o título “Un groupe professionnel en évolution? - Les animateurs socioculturels et de loisirs, analyse secondaire de l’enquête Emploi (1982-2005)”. Tem-se acesso a este Relatório no site Passeurs de Culture do mesmo INJEP (http://passeursdeculture.injep.fr/).

Apesar de estar relacionado com a questão do emprego destes profissionais em França, entre 1982 e 2005, a originalidade deste estudo está em ter adoptado um ponto de vista diacrónico, isto é, ele faz a história do próprio movimento da Animação e da profissionalização do animador em França a partir do início da década de 70 do Séc. XX até 2005. Marca com bastante veemência a evolução da animação com as diferentes características que a compõe.

Esta circunstância permitiu que este estudo abordasse questões que se inserem numa problemática sobre as novas profissões sanitárias e sociais, assim como lúdicas, artísticas, de lazer e desportivas, estabelecendo a sua ligação à Escola (que do ponto de vista dos investigadores lhes parece fragmentada), assim como estabelece a sua posição intermédia nas hierarquias sociais e profissionais (que lhes parece incertas, todavia).

Sem me alongar demasiado, visto ser um estudo longo e profundo, ele contextualiza a problemática da indefinição da função e do perfil desde 1974 e que se prolonga até à actualidade. Não é de estranhar portanto, tanto em Portugal como em Espanha, com menos passado histórico sobre esta matéria, se viva ainda hoje uma semelhança muito próxima da indefinição dos anos 70 em França e que, pelos vistos, ainda se mantém. O grande avanço foi, tal como está a acontecer em Espanha, mas não em Portugal, ter-se encontrado ou clarificado a criação de espaços e de objectos de animação que permitem agregar milhares de profissionais da animação, incluindo os animadores voluntários. Esta clarificação, apesar de tudo, foi permitindo também identificar os perfis dos animadores e partir-se daqui para a elaboração jurídica dos contratos de trabalho.

Finalmente e como curiosidade, o estudo também foca a questão da feminização da profissão. Na história da animação profissional em França, o métier era desenvolvido maioritariamente por homens. Nos primeiros filões saídos da formação académica e profissional ainda o número de profissionais era consideravelmente masculino. Podemos comparar também à história da animação em Portugal até ao momento que se iniciaram as primeiras formações académicas e profissionais. Eram quase exclusivamente animadores e não animadoras. Penso que o fenómeno da feminização da profissão foi um processo natural em Portugal, Espanha e França com a democratização do ensino e do acesso e igualdade de oportunidades às novas profissões.