08 maio 2007

QUERIA DIZER...

No passado mês de Fevereiro fez trinta e quatro anos que cheguei da Guiné conjuntamente com os meus camaradas do Batalhão de Caçadores 3832. Durante este período apenas me encontrei com eles duas vezes. A primeira, em Évora, acerca de 9/10 anos e a segunda, justamente no fim-de-semana passado, a 5/6 de Maio de 2007.

Estive sempre renitente em participar nestes convívios, porque é disso que se trata, onde supostamente se reencontram afinidades e emoções, outrora vividas em conjunto durante os vinte e quatro meses em que permanecemos no território africano.

O dizer que sempre me mantive renitente, foi o pretexto para afirmar a minha indisponibilidade de “embarcar” de novo em emoções, apesar de estarem registadas, e muito profundamente em cada um de nós. Foi afinal o pretexto para não querer reeditar esse estado de espírito, para meu descanso e consciência. Senti muito isso, ainda no meu primeiro encontro e já o Batalhão se reunia de há vinte anos a essa parte. Felizmente já não senti neste último encontro, talvez porque estejamos mais velhos e mais cansados. Mas também porque os nossos descendentes presentes têm uma visão mais racional e distante dessas emoções.

Fui fazendo a minha catarse paulatinamente. Envolvido pela criação artística, através da minha relação com a dança e com o teatro, e absorvido pela reflexão mais racional através da minha participação académica, nomeadamente em congressos sobre a guerra colonial.

Estes eventos, que reatam as ligações afectivas e a solidariedade, construídas num tempo e espaço, hoje de memórias, servem afinal para dizermos que os valores construídos em conjunto, no momento em que crescíamos à força para ser homens, permanecem inalteráveis, sinceros e sem saudosismos.