13 maio 2007

4 Breves reflexões sobre práticas, de facto, de ASC

Reflexão 1 - Práticas de intervenção sociocultural

No âmbito da cadeira de Projecto Sociocultural do 4º ano do Curso de Animação Educativa e Sociocultural da Escola Superior de Educação de Portalegre (último ano de licenciatura), tenho vindo a realizar, dos últimos anos a esta parte, conjuntamente com os(as) estudantes finalistas, projectos socioculturais de intervenção comunitária.
A proposta de intervenção comunitária insere-se na dimensão de aquisições práticas a adquirir pelos(as) estudantes finalistas, futuros(as) profissionais de ASC, ao mesmo tempo que colocam os seus conhecimentos teóricos e práticos, adquiridos ao longo da sua formação superior, em correlação, mas também em cooperação, com as dinâmicas socioculturais locais já instituídas ou outras a instituir, se pensarmos ou decidirmos falar em criação da inovação.
A continuar esta breve reflexão, ou constatação, gostaria de recordar que estamos numa região, o Alentejo, com um défice demográfico bastante acentuado e que se tem repercutido, entre outras coisas, pela ausência progressiva de um movimento associativo local e regional.
Esta circunstância leva a que algum poder local, e não generalizo como é óbvio, tanto ao nível das câmaras municipais, mas também e talvez mais, ao nível das juntas de freguesia, se considere dono absoluto das emergentes, apesar de tudo, dinâmicas socioculturais.
Se é verdade que alguns dos bons autarcas, que entendem o que é a democracia, valorizam por isso mesmo o sentido da participação das comunidades e se assumem como parceiros dessas dinâmicas, outros há que preferem ignorar esta dimensão, resolvendo-se assumir como protagonistas e decisores daquilo que entendem ser o mais importante para as comunidades. Falamos aqui de um caciquismo local que não está ainda de todo irradiado daquilo que deveriam ser as boas práticas da democracia neste país.
Pois é. Afinal a lufada de ar fresco que estudantes finalistas de um curso superior de animação sociocultural ou de outro curso qualquer como o de serviço social ou até mesmo de professor(a) e/ou educador(a), poderiam levar aos lugares mais necessitados, mais isolados e, por isso mesmo, mais esquecidos, é absolutamente ignorada porque pode retirar esse protagonismo a quem pensa tê-lo por direito.
Mas, justamente, não tem o direito de fazer privar as comunidades daquilo que poderá ser, potencialmente, espaços de desenvolvimento local e comunitário.
Assim, terá de ser mais aberto ao mundo e…mais democrata.

Reflexão 2 - Reorganização e criação de hábitos de socialização e cooperação comunitária

Rentabilizar os recursos (espaços, meios e agentes) comunitários, colocando-os ao serviço da população, é consciencializar para uma nova interacção comunitária, ao mesmo tempo que se desperta nas pessoas a emergência para a participação individual e colectiva.
A emergência para a participação individual e colectiva nas comunidades foi desperta nas várias reuniões intermédias que a minha equipa, integrada num projecto de intervenção-acção mais amplo, promoveu junto de alguns parceiros locais, nomeadamente das autarquias locais, para além das escolas e associações, ou ainda de personalidades locais com influência democrática.
A resolução de alguns impasses, conducentes à participação dos cidadãos na vida comunitária, passou pela consciencialização da existência de problemas nos espaços que queríamos animar e na forma como se organizava a intervenção desses agentes locais. Essa consciencialização passou pela concentração dos agentes socioculturais locais pelos vários espaços comunitários em trabalho de Seminário.
Os Grupos ou Associações, envolvidos que estavam nas suas actividades, a maioria das vezes solitárias e muitas vezes numa atmosfera de competição exagerada, ignoravam, quase intencionalmente, a possibilidade de se trabalhar em conjunto para o bem colectivo. Este espaço de Seminário, que decorreu ora num Centro de Dia, ora num Centro Cultural ou ainda num Centro Comunitário ou sede de Associação, permitiu que os agentes socioculturais locais fizessem a auto-crítica sobre o seu papel e o trabalho comunitário desenvolvido até esse momento.
A constatação foi a de que, para além da sua actividade específica, a razão principal da sua existência, haveria mais para dar em termos comunitários se, porventura, coexistissem numa federação de intervenção local e comunitária. A partir desta organização, as estratégias de desenvolvimento sociocultural local comum tinham todas as condições de êxito. A dimensão inovadora desta intervenção foi a consciencialização para um papel de maior intervenção e para uma dimensão mais transversal da animação sociocultural local e comunitária.

Reflexão 3 - Animação sobre a Palavra

O pretexto para a realização deste produto surgiu para dar uma resposta coerente com os objectivos de um equipamento como um Centro de Dia, novo, por estrear, e que parecia condenado ao abandono por parte da população potencialmente fruidora desse espaço: os idosos. A informação na posse da equipa, era a de que os idosos desta comunidade não estariam interessados em ocupar este espaço, preferindo ficar em suas casas. A estratégia e a metodologia seguida, foi no sentido de envolver essa população na descoberta de um outro espaço e com vivências capazes de os fazer sentir úteis, contribuindo assim para a sua auto-estima.
Organizou-se assim, entre os idosos, protagonistas da história, mas envolvendo também a comunidade escolar e os animadores da equipa, uma sessão/convívio sobre a palavra, onde a poesia popular, centro de interesse de alguns desses idosos, foi a protagonista pelas vozes dos idosos e das crianças do jardim-de-infância e da escola do 1º ciclo locais, a partir de um trabalho conjunto e inter-geracional.
A dimensão inovadora desta intervenção-acção e que fez aumentar o interesse dos idosos pela frequência regular no equipamento, estava relacionada com o facto da equipa ter apresentado, no mesmo programa, momentos de poesia e prosa, a palavra dita, momentos de mimo, a palavra silenciosa e a palavra cantada com a apresentação de um grupo de cantatas, clássicas e modernas. Portanto, o contacto com novas linguagens da expressão e da comunicação.

Reflexão 4 - Formação (Não-Formal)

Este produto surgiu de uma necessidade intrínseca sentida por um grupo de teatro, recém-criado, composto maioritariamente por jovens sem qualquer experiência de representação ou de educação estética e artística, dirigido por um adulto assumidamente ensaiador, no sentido tradicional e associado à tradição dos “velhos” teatros de amadores. Este grupo de jovens tomou consciência, após a estreia do seu primeiro espectáculo no Centro Comunitário, da necessidade urgente de formação e de educação estética no campo teatral. Esta consciencialização foi sentida, apesar do esforço individual e colectivo envolvido, pela ausência daquilo que a função social e lúdica do teatro deve proporcionar: o prazer lúdico e a partilha. Mesmo sem hábitos culturais sistemáticos, os públicos de hoje são mais exigentes e, portanto, a crítica é mais contundente.
A dimensão inovadora desta intervenção foi estabelecida pela necessidade de se organizar a formação e educação teatral no que diz respeito, essencialmente, ao trabalho de actor e de encenação, assim como às opções estéticas do reportório. Mas também à importância educativa do teatro nas suas dinâmicas de desenvolvimento local.