19 março 2007

50ª Aniversário da RTP

Estava a fazer oito anos ao mesmo tempo que se iniciavam as emissões da Televisão em Portugal. Sou, portanto, da geração da RTP que festeja agora o seu 50ª aniversário. As memórias de ambos fundem-se no espaço, ao mesmo tempo que se singularizam no tempo, isto é, o privado e o público separam-se para que um dia cada um de nós sistematize as suas próprias memórias.

Assim acontece, aqui e agora. A RTP recorre às suas memórias para afirmar a sua identidade e eu recorro às minhas para reescrever histórias de vida.

A primeira imagem que tenho da Televisão e uma das mais marcantes, pela idade da altura naturalmente, é do programa infantil que acontecia todos os domingos ao fim da tarde em dois momentos: o primeiro, uma rubrica intitulada “O correio do tio João”. Não me lembro do apresentador, mas a moça bonita de cabelos compridos, que o acompanhava, vim a conhecê-la como professora, quinze anos mais tarde, na Escola Superior de Teatro do Conservatório Nacional. Era a Teresa Mota, irmã do meu amigo e colega João Mota e esposa do meu ex-director de teatro Richard Demarcy. O outro momento integrado neste programa infantil era a magia e a alegria dos palhaços. Que memórias divertidas tenho da dupla Vasquito e Anhuka.

Nuns momentos fui espectador de Televisão. Assim fui vendo as coisas a acontecer no mundo e a evoluir no conhecimento com a televisão: as Noites de Teatro e gerações de grandes actores e actrizes, a chegada do primeiro homem à lua, o Falar de Teatro com o Mestre António Pedro e ouvir João Villaret na poesia ou o Prof. Vitorino Nemésio no “Se bem me lembro”, até às memórias mais actuais, como o momento da Revolução de 25 de Abril de 1974 ou às notícias da actualidade e do mundo.
Noutros momentos fui protagonista do próprio objecto Televisão. Assim, com catorze anos, embora devesse ter dezasseis, enganei a produção, estive no concurso “Quem sabe, sabe” animado por Artur Agostinho. De facto, pela idade, ainda teria muito que aprender e, por isso, apenas ganhei um mealheiro, em prata, oferecido pela Confidente. Na minha condição de criador, entre os meus dezassete e trinta e sete anos, alguns dos momentos de televisão enunciaram claramente o meu crescimento como pessoa e como artista: no bailado “Ma Mère L’oie”, de Ravel, com realização de Alfredo Tropa, integrando a Companhia de Bailado de Anna Máscolo, em programas de Poesia e Movimento, com realização de Hélder Costa, integrando o Grupo de Águeda Sena, na peça de Teatro “A Estátua” de Luís Stau Monteiro, para estúdio, com realização de Herlander Peyroteo e em alguns espectáculos de teatro, do palco para televisão, como actor do Centro Cultural de Évora. Finalmente, também, como animador de espaços lúdicos e educativos, como o Museu de Évora e a Escola do Magistério Primário da mesma cidade.

Hoje a Televisão, que continuará a criar memórias, já não me traz tanto encanto. Será porque é mais cruel? Mais real? Não podemos sonhar sempre, não é? Chega o dia em que a magia se perde ao descobrirmos o truque…

A propósito, parabéns RTP.