27 dezembro 2006

Textos Dezembro 2006

Atendendo à quadra natalícia, e também por ser um momento de maior reflexão interior, vou fazer uma pausa, até ao Dia de Reis, no contacto com todos os meus amigos.

Aproveitava este momento para vos enviar
VOTOS DE FESTAS FELIZES NESTE NATAL DE 2006 E VOTOS DE FELIZ ANO NOVO DE 2007 COM TUDO DE BOM, SOBRETUDO COM MAIS PAZ E MAIOR COMPREENSÃO ENTRE OS POVOS DO MUNDO.

Estes votos são extensivos:
Em primeiro lugar a toda a minha família nuclear: à minha mulher Ilda, aos meus filhos Pedro (em Barcelona), Sérgio e Ivan, mas também à minha nora Célita e ao meu neto Manuel que nascerá em princípios de Fevereiro de 2006. Aos meus pais, minha sogra, meus irmãos, sobrinhos e cunhados e a toda a família em Portugal.
Em segundo lugar a toda a minha família dispersa por essa Europa na sua condição de emigrantes de longa data: Família Garcia, Família Pinheiro, mas também ao Iuri (meu sobrinho e afilhado).
Depois aos meus amigos espalhados pelo mundo: Canadá: Família Nogueira: Neves, Fernandas, Raul e filhos; Família Querido: Luísa, Pedro e Dany. França: Gisèle Barret (minha saudosa Mestre) e Jean-Claude Gillet. Espanha: Ventosa, Caride e Ucar. Brasil: Victor Melo, Malu e Augusto Boal (meu saudoso mestre) e muitos amigos da ASC por outros países da América Latina.
Depois a todos os meus amigos e colegas em Portugal: Do Instituto Politécnico de Portalegre em geral e da Escola Superior de Educação de Portalegre em particular, da Companhia de Teatro de Portalegre, do CENDREV, da Universidade de Évora (Departamento de Artes/Teatro).

E ainda ao Amílcar Martins, ao António Nóvoa, ao Augusto Vintém, ao Carlos Fragateiro, ao Carlos Costa, à Domingas Valente e família, à Eugénia Vasques, à Isabel Vila Maior, ao João Mota, ao Ti Hermenegildo, ao João Vintém, ao Mário Barradas (ilustre mestre), ao Américo, ao Marcelino e ao Carlos Cardoso de Trás-os-Montes, ao Mascarenhas, ao José Peixoto, à Júlia Correia, ao José Gil, ao D. José Alves, Bispo de Portalegre, amigo e antigo professor, ao António Murteira e Manuela, ao Carlitos e à Arlanda, ao Vidinha, Mimi e filho e a tantos outros…

E ainda aos meus ex e actuais alunos(as).



18.Dezembro.2006

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Significativa é a apropriação do discurso teatral (o escrito e o representado) feita por meninas entre os 14 e 17 anos, de uma instituição de acolhimento de menores, sem qualquer experiência de criação teatral e que nos levou à espantosa forma de reflectir sobre o mundo e as relações entre as pessoas.

O texto, criado a partir de uma percepção profunda da responsável desta instituição sobre os percursos de jovens institucionalizados, leva-nos, a todos, a reflectir afinal sobre o percurso de todos os jovens que constituem uma sociedade de conflitos, de periferias, de injustiças e de desafetos.

A experiência de vida das jovens, tendo sido por vezes violenta e de profunda exclusão, reflectiu-se de uma coragem em cena, afirmando a sua enorme maturidade, ao mesmo tempo que se discernia, isto é, não se permitia confundir, de maneira nenhuma, as histórias das personagens das histórias das intérpretes.Foi uma lição de amor. Afinal o título era nada mais nada menos que “Não evoquem o amor em vão…” que funcionava como leitmotiv de histórias de vida comum que, no encalço da felicidade, esbarravam no campo da não inclusão. A isto sobrepunha-se a enorme coragem dos não-eleitos que optimizando a sua juventude e o seu desejo de futuro, construíam a felicidade vencendo hoje.

Do ponto de vista da criação artística, tanto a encenação como a interpretação, revelam crescimentos colectivos envoltos em sensibilidades e linguagens artísticas diversificadas: do teatro à dança e da música à poesia.

Do ponto de vista da função social do teatro, é claro o papel de crítica social capaz de reformular os discursos e as práticas sociais. Humanizando-os, está feito o caminho da procura, do encontro, da partilha, da solidariedade, mas também do encontro com a Arte.

Parabéns aos 143 anos do Internato Feminino de Nossa Senhora da Conceição de Portalegre, à sua directora, aos funcionários e, sobretudo, às meninas, que não se cansam de querer chegar a mulheres felizes. Com todo o direito que lhes assiste.



11.Dezembro.2006

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Não me surpreende que nalgum discurso político sobre o ensino superior em Portugal se tente criar a imagem de uma hegemonia das Universidades, tornando-as o primeiro patamar deste nível de ensino, ao mesmo tempo que se coloca, intencionalmente, os Politécnicos num segundo patamar, naturalmente inexistente, no mesmo nível de ensino.

Quando me refiro a algum discurso político, não me direcciono exclusivamente aos políticos, nomeadamente aos governos que por aqui têm passado, nem aos partidos que têm sido oposição, apesar de se saber que, ou por não terem um discurso muito claro sobre esta matéria, ou porque muitas vezes o omitem, contribuem para veicular essa ideia de hegemonia que bastante jeito dá às Universidades. Refiro-me também à sociedade civil que, como consequência do discurso mediático, acaba por aceitá-lo, acomodando-se, ao mesmo tempo que se retira da discussão pública.

que me surpreende mesmo é a RTP1 que, supostamente, deveria praticar um serviço público, acabe no programa Prós e Contras por trilhar o mesmo percurso ao ignorar quem são os protagonistas nesta matéria. Claro que neste debate sobre o ensino superior em Portugal deveriam estar no painel principal, o ministro da tutela, que esteve, o presidente dos reitores das universidades, que também esteve, mas também o coordenador nacional dos politécnicos, ausente neste painel, embora estivesse na plateia e com direito apenas a responder muito rapidamente a uma questão colocada pela pivot do programa. Como este debate não era exclusivamente sobre o ensino superior público, deveriam estar também no painel principal os responsáveis nacionais do ensino superior privado.
Para a plateia deveria ficar o espaço para intervenções mais simbólicas, mas não menos importantes, de outros protagonistas que definem também a matriz do ensino superior em Portugal.

Foi claramente um mau serviço público da RTP1.
A propósito do serviço público que algumas instituições do Estado têm por direito e dever praticar, gostaria de referir o excelente trabalho de divulgação cultural e de criação de públicos levado a cabo pela equipa do Teatro nacional de D. Maria II. As exageradas críticas sobre o projecto de Carlos Fragateiro e restante equipa para o Teatro Nacional parecem-me de todo injustas, sobretudo quando os acusam de desenvolver programas culturais populistas. Verifico que a dimensão da criação contemporânea está bastante presente, recorrendo-se preferencialmente a autores nacionais, mas também sem se descurar a dramaturgia contemporânea internacional.

Haverá alguma razão que justifique aquele espaço ter de responder exclusivamente a projectos e estéticas elitistas e, como consequência, limitador de públicos, conforme exigência de muitos intelectuais da cidade de Lisboa? Para isso existem as companhias experimentais e paralelas, que muito e excelente trabalho produzem.

A função de um Teatro Nacional é democratizar as práticas culturais, incentivando a população para a criação de hábitos culturais. É uma pedagogia que valoriza o gosto e a dimensão estética dos públicos, ao mesmo tempo que os diversifica.

Lendo com atenção as páginas do suplemento do Jornal Expresso dedicadas ao Teatro Nacional D. Maria II verifico a diversidade do seu programa e a preocupação por atingir vários públicos. Os clássicos também têm espaço, seguramente, nos projectos de Carlos Fragateiro, mas essa não é a sua prioridade. Têm espaços e tempos próprios…A democratização do Teatro Nacional D. Maria II passa também por democratizar o seu próprio espaço e edifício, com outras actividades que consubstanciarão novos hábitos para o frequentar: a livraria, a esplanada, os públicos escolares, o horário aberto…

Enfim, isto é o que eu entendo por democratização cultural. Por favor não apelidam este projecto de populista mas sim de popular. É também um bom serviço público!



03.Dezembro.2006