Textos Novembro 2006
O Outono é, por tradição, a época da Festa da Cultura (s), especialmente dos Festivais de Teatro e não só!
Tão perto de nós, Évora e Portalegre assumem um itinerário destes eventos onde, para além da discussão teórica ou da formação, vamos assistindo a projectos teatrais diversificados e que consubstanciam, sobretudo, a perspectiva actualizante e interventiva da arte contemporânea, mesmo quando se representa um texto clássico.
O XV Festival de Teatro de Portalegre, organizado pela Companhia de Teatro de Portalegre “O Semeador”, habituou-nos a duas componentes interessantes: a da cooperação transfronteiriça, portanto o teatro vindo logo ali de Espanha e a cooperação lusófona, ora com companhias brasileiras, ora com companhias africanas de expressão portuguesa.
Os sacrifícios da CTP “O Semeador” têm vindo a aumentar ano após ano com a redução dos financiamentos para o evento. Creio mesmo que este ano só aconteceu porque a Câmara Municipal de Portalegre assumiu quase na totalidade os custos do festival.
Estes eventos são uma mais valia para as cidades onde decorrem: mediatizam-na e apresentam-na como cidade cultural. Ao mesmo tempo desenvolvem uma actividade económica e contribuem para o desenvolvimento local. Com tudo isto ganham também as Autarquias, quer na dimensão política, quer ainda na dimensão comunitária.
O Festival Internacional de Teatro de Portalegre iniciou-se a 19 de Novembro e decorrerá até 30.
Évora já institucionalizou o Encontro de Teatro Ibérico. Este ano decorrerá o IV Encontro entre 1 e 9 de Dezembro próximo. Para além de ser um evento cultural significativo, entre outros que o CENDREV mantém, este IV Encontro é, sobretudo, um fórum de discussão de estéticas e de práticas teatrais inovadoras. A enriquecer o quadro dos espectáculo que irão ser representados no Teatro Garcia de Resende, destacamos a estreia a 1 de Dezembro de “O Eunuco de Inês de Castro” do nosso amigo e colega Armando Nascimento Rosa.
Gostaria também de referir o XII Festival Internacional de Teatro ACERT de Tondela (FINTA de 1a 9 de Dezembro de 2006).
O ACERT de Tondela é uma referência nacional e internacional no panorama da descentralização teatral e da descentralização cultural tout court. Temos pena que Tondela esteja um pouco longe aqui do Alentejo, numa altura em que nos é difícil ausentar dos nossos compromissos académicos locais. Gostaríamos de ver alguns dos seus espectáculos que mostram inovação e transversalidade nas linguagens. Como diz o pessoal do ACERT: Dramático é perdê-lo…
Finalmente houve algum consenso sobre a designação dos cursos de Animação Sociocultural (mais uma informação que retirei do blog do José Vieira). Uma proposta do Ministério da Educação para as Escolas Profissionais. É uma medida acertada e lógica. Temos pena que o mesmo não tenha acontecido, e com a mesma facilidade, no Ensino Superior. Apesar de tudo, logo que os cursos estejam todos a funcionar sob a alçada de Bolonha, iremos verificar que houve alguma adesão à terminologia do curso em questão.
Carlos Costa! Você é o administrador ideal para o FLAMA DE VIDA! A passar essa gestão para outra pessoa, o seu blog será afinal outro…
Acreditamos que os seus intensos afazeres, acrescidos agora com responsabilidades na Rede Iberoamericana de ASC, lhe dêem menos espaço para estar connosco neste espaço. Você faz falta. É um lutador e um militante.
26.Novembro.2006
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Este artigo foi escrito no início do passado mês de Agosto para ser publicado na Revista Alentejo que saiu agora em Novembro. Por uma falha de comunicação não foi possível torná-lo público. Salvaguardando as referências aos processos de candidaturas ao ensino superior, a sua actualidade e pertinência, legitima de facto a sua publicação.
O ENSINO SUPERIOR PÚBLICO NO ALENTEJOE O PROTOCOLO DE BOLONHA
ESTRATÉGIA REGIONAL OU SALVE-SE QUEM PUDER?
A filosofia do Processo de Bolonha assenta fundamentalmente neste princípio: na emergência de um sistema de desenvolvimento de competências, por oposição a um sistema de apropriação de conhecimentos actualmente em vigor em quase toda a Europa.
Para ser cumprido, este princípio sugere algumas regras comuns:
a) a primeira passa pela adopção de um sistema que facilite a leitura e a compreensão dos planos de estudo;
b) a segunda propõe que a estruturação desses planos de estudo deverá assentar em três ciclos de formação: o 1º Ciclo, que corresponderá a três ou quatro anos de formação inicial, no fim do qual se atribuirá o grau de licenciado; o 2º Ciclo, que decorrerá num ou dois anos, no fim do qual se atribuirá o grau de mestre e, finalmente, o 3º Ciclo que, entre cinco e seis anos atribuirá o grau de doutor;
c) a terceira regra estabelece a oportunidade da criação de um sistema de créditos, os chamados ECTES, que promove uma inserção mais extensa dos estudantes;
d) ainda uma quarta regra, que não deixa de ser relevante, é aquela que promove a mobilidade dos estudantes e dos professores pelo espaço europeu, no sentido de serem aproveitadas, por ambos, as melhores oportunidades de formação e/ou profissionalização.Sistematizaria estas regras numa questão essencial: o Processo de Bolonha visa aproximar, a nível europeu, entre outras coisas, os conteúdos disciplinares de forma a facilitar a mobilidade de estudantes e de professores. Mas visa, também, reduzir o número de cursos, obrigando as instituições a encontrarem uma maior aproximação na sua nomenclatura, para evitar uma enorme dispersão de títulos de cursos que vão, no fundo, preparar os mesmos profissionais para o mesmo mercado de trabalho.Sendo estes os pontos fundamentais resta-nos questionar sobre como irá ser em Portugal. Em primeiro lugar, depois de um período conturbado pela indefinição das políticas educativas e pela indecisão política nesta matéria, começa a desenhar-se o modelo europeu de ensino em Portugal. Todavia, não está a ser muito fácil, num contexto em que proliferam cursos que ninguém sabe para que servem, assim como cursos de nomenclaturas diferentes para a mesma função profissional e para o mesmo mercado de trabalho, como é por exemplo o caso, que conhecemos melhor, dos cursos de Animação Sociocultural. Por outro lado é toda uma mudança cultural que se irá processar, quer do ponto de vista do estudante, quer do ponto de vista do professor, isto é, para o aparecimento de um sistema de desenvolvimento de competências, aquele que enunciávamos no início como a filosofia do Processo de Bolonha, é necessário mudar, tout court, os hábitos de trabalho. Toda a formação desenhar-se-á na base de horas de contacto (com o professor) e horas não-lectivas (de estudo, de pesquisa, de organização, de intervenção, etc.). As primeiras, muitas vezes em menor número que as segundas, tornarão estas absolutamente relevantes do ponto de vista da avaliação.A situação, ou melhor, a revolução que se aproxima, deixa-nos algumas expectativas. A primeira é saber se, mesmo trabalhando afincadamente na organização dos cursos, como sugere Bolonha, não irá haver não só no seio europeu, mas também aqui mesmo em Portugal, instituições de primeira e instituições de segunda. A segunda expectativa é saber se os nossos estudantes serão bem aceites noutras instituições europeias, usufruindo delas as mesmas oportunidades académicas que os outros parceiros europeus. Finalmente a terceira expectativa, e que se traduz num problema social, é saber se o desemprego de professores não irá aumentar substancialmente. O lado positivo de toda esta questão, correndo o risco de nos contradizermos, é afirmar que, perante o funcionamento justo e correcto deste processo, Portugal e os portugueses encontram, uma vez mais, uma grande oportunidade para avançarem no seu desenvolvimento e na sua plena integração europeia.
O que temos vindo a dizer situa-se na base técnica que sustenta o Processo de Bolonha. Nalguns países europeus, assim como em Portugal, esta base técnica interfere objectivamente nas políticas educativas em vigor em cada um desses Estados, pelo que devem ser alteradas. As directrizes de Bolonha assentam na emergência de uma assunção política, por cada Estado membro, naquilo que é a definição de uma política comum europeia de ensino superior. Temos portanto, a nível europeu, uma enorme diversidade social, política, económica e cultural e que traduzirá diferentes formas de afirmar essa política comum.
Em Portugal, para além das decisões políticas a serem tomadas, temos realidades socioculturais bastante diferenciadas entre regiões e que fazem acentuar o fosso entre o litoral e as regiões do interior. É por quase todo o litoral que se dispersa o tecido empresarial e se concentra o tempo e o espaço das maiores oportunidades contratuais dos cidadãos. Para as regiões do interior, nomeadamente para o Alentejo, fica a ausência de investimento e acentua-se a desertificação.No ensino superior temos, pelo país, uma matriz de dois sub-sistemas: as universidades e os institutos politécnicos. Apesar das condições de acesso ao ensino superior serem exactamente as mesmas, há quem cultive a ideia de que o papel da Universidade, tendo em conta o seu peso histórico e cultural, deve acentuar as diferenças existentes entre esta e o Politécnico. Naturalmente que este discurso pressiona e predispõe para uma estratificação social no âmbito da procura. O corolário é alimentar a oferta na base desse pressuposto. Todavia, a prática e a história recente mostram-nos que as opções dos estudantes assentam em interesses de formação diversificada que, felizmente, se dispersam por todo o país, tanto pelas universidades como pelos politécnicos. A questão aqui não está, portanto, na dicotomia universidades/politécnicos, mas mais na proliferação de cursos. É verdade que muitas vezes são cursos com outros nomes, mas com planos de estudo quase idênticos e que conduzem para as mesmas saídas profissionais.
Se olharmos, como temos feito recentemente, para os espaços publicitários nos media, apresentados por algumas instituições de ensino superior público, politécnicos e universidades indiferentemente, verificamos uma agressividade na mensagem que sugere, a maioria das vezes, a existência do exercício de um melhor ensino, a criação de ilusões quanto às oportunidades europeias e até a garantia de emprego após conclusão do curso. As instituições do litoral utilizam estrategicamente estas leis do marketing para captar novos alunos. Enfim, com um conjunto de variáveis determinantes, seduzem facilmente os futuros estudantes do ensino superior face a essa diversidade sociocultural. O que fica daqui é que as instituições das regiões do interior, com as mesmas variáveis, mas supostamente de peso inferior, correm o risco de ser fortemente penalizadas e discriminadas.
Mas, não tenhamos ilusões, este marketing agressivo também existe, infelizmente, entre as instituições do interior e, muitas vezes, da mesma região. É verdade que a população estudantil está a diminuir, que a desertificação está muito presente e que estes problemas tocando num, tocará a todos naturalmente. A solidariedade regional e a nacional deveria estar presente na nossa cultura do quotidiano. Nas pessoas individualmente, mas também nas instituições e nas organizações.Temos, de ensino público na região do Alentejo, a Universidade de Évora e os Institutos Politécnicos de Beja, de Portalegre e de Setúbal e temos, seguramente, condições para se fomentar uma cooperação forte e sistemática entre estas instituições, na base também de uma estratégia de desenvolvimento para a região. Pela grandeza dos seus recursos materiais e humanos e pelo know how de cada uma destas instituições, em muitas e diversificadas áreas, parece-nos haver condições para o estabelecimento de uma associação que privilegie o intercâmbio e a mobilidade dos seus docentes e estudantes, que faça uma gestão regional dos cursos que cada instituição deve oferecer, tanto nas licenciaturas, como nos mestrados, de forma a garantirem públicos, diversificados, entre as quatro instituições, sabendo logo de partida que os doutoramentos são da exclusiva responsabilidade da Universidade.
Mas a cooperação entre estas instituições não se esgotaria nas questões de gestão corrente ou de sobrevivência académica, melhor dizendo. Estender-se-ia também através de um envolvimento comum em projectos de investigação científica, tecnológica, artística, social, e cultural, de âmbito regional, nacional e internacional. Isto só será possível pela riqueza da diversidade de formações dos seus docentes.
É urgente que as instituições públicas do ensino superior no Alentejo se sentem à mesma mesa e, com coragem política, discutam o seu futuro e o futuro colectivo da região. A discriminação positiva entre o litoral e o interior, que exigimos que o poder central realize a nosso favor, deve começar antes de tudo por nós, no próprio interior, neste caso no nosso Alentejo.
19.Novembro.2006
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Estava a ficar ansioso por me atrasar no escrito da semana. Habituei-me, comprometendo-me com os meus leitores, de que este ritual da escrita seria semanal. Todavia, há mais mundos para além deste e, portanto, as nossas preocupações dividem-se por muitos afazeres ou pela ausência deles.Finalmente concluímos na ESEP (Escola Superior de Educação de Portalegre) os dossiês de adequação a Bolonha dos cursos já existentes, assim como de outros a serem propostos pela primeira vez. Ficaram fora, para já, deste processo e deste momento, os cursos de formação de professores e de educadores. Foi uma maratona de diálogo, convergências e divergências, de reflexão, estudo, pesquisa e elaboração dos planos de estudo, assim como de toda a documentação justificativa.
Claro que o curso de Animação Sociocultural dominou toda a minha disponibilidade e empenho. Apesar das tais divergências, penso que é um Plano de Estudos equilibrado, eficaz, funcional, inovador e plural. Perfeito? Ideal? Não me parece que exista algum ou alguns e que isso seja a determinação das nossas vidas.Também avançámos com mais dois cursos completamente novos e inovadores. O primeiro na área das Artes e o segundo, com proposta dos dois ciclos, na área da Educação e Formação de Adultos.Através do site do José Vieira vou-me informando de uma problemática, que ele domina bastante bem, e que eu tento integrar nas minhas reflexões e preocupações: a juventude! Não sendo especialmente uma área da minha intervenção académica e pessoal, não deixa contudo de estar nas minhas preocupações. Estão a ser criadas, pelo que vejo, muitas oportunidades de crescimento intelectual, pessoal e profissional dos jovens, nomeadamente numa estratégia de universalidade e de aproximação entre povos e culturas. Bem hajas José Vieira por disponibilizares essa informação.
Da discussão nasce a luz! Isto é o senso comum, independentemente de muitas vezes não ser bem assim. Mas aceitando a frase como um incentivo, estão criadas as condições para, neste momento, e através deste equipamento e destes canais, reflectirmos sobre aquilo que nos interessa e sobre aquilo que achamos ser pertença da humanidade: a compreensão, a flexibilidade, a tolerância, o conhecimento, e por aí fora.
Esta realidade é enriquecida, seguramente, com o aparecimento destes espaços interactivos da comunicação entre as pessoas. Felicito por isso, o aparecimento do site do Rogério Duarte Silva, antigo aluno e novo companheiro nos percursos da Animação. Página atraente e inteligente nos conteúdos. Força amigo Rogério!
Mas mais páginas de Animação vão surgindo:
www.eneaorg.com.sapo.pt e www.eneaorg.blogspot.com e que dizem respeito a uma ideia de um Encontro Anual de Estudantes de Animação, como também a página dos alunos do 2º ano do Instituto Superior de Ciências Educativas http://animadoresplotv.blogspot.com/ .
O mais importante, para além do aparecimento dos sites, que não deixa de ser relevante, é o aproveitamento destes espaços para o estabelecimento de ideias, de trocas de experiências, de criação de espaços de mobilidade (preconizados por Bolonha), mas também de circuitos de solidariedade e de transmissão de valores democráticos.
Esta foi uma síntese que gostei de fazer…
14.Novembro.2006
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Ontem tive o privilégio de estar presente em Évora na festa de homenagem que o CENDREV, conjuntamente com muitos amigos de todo o país, quiseram fazer ao Mário Barradas.
Homem do Teatro e da Cultura, da Educação e da Política, o Mário é sobretudo uma referência para muitas gerações que com ele tiveram o privilégio de contactar, quer como alunos, actores e companheiros de ideais. O Mário está aí, por muito tempo seguramente, a dar-nos lições de vida e de cultura com a sua humildade e medo de protagonismos. Está aí como um encenador brilhante e que fica na História do Teatro em Portugal, mas também como actor inteligente nos registos e na expressão e comunicação de todo o seu talento.
Tinha coisas para lhe dizer e ali não era seguramente o lugar e a hora certa, mas nem por isso quis deixar de o fazer através desta carta, escrita no dia anterior e enviada para o CENDREV:
CARTA ABERTA AO MÁRIO BARRADAS
Meu Caro Mário Barradas
Amanhã estarei, com muitos amigos teus, junto de ti, a partilhar momentos de reconhecimento, de gratidão e de emoção certamente, pelo teu percurso de vida e pelos momentos em que ela se cruzou com outras vidas. Apesar de lá estar, não terei certamente possibilidade de te dizer pessoalmente estas palavras, uma vez que a tua atenção estará divida por muitos amigos e tu quererás, como sempre, estar atento a cada um deles.
Quero dizer-te Mário, creio que nunca to disse, tu foste a pessoa que, sem querer, traçou indubitavelmente o percurso da minha vida. Isso aconteceu porque acreditaste em mim, naquilo que eu poderia aprender e fazer, mas também porque não poderias fugir à singularidade dos teus gestos e das tuas convicções traduzidas em generosidade e solidariedade. Na altura em que era difícil entrar na Escola Superior de Teatro do Conservatório Nacional foste, no momento do exame de admissão, sensível ao meu desejo de aprender e fazer Teatro, mas sensível também a um jovem recém chegado da guerra colonial com todos os problemas emocionais daí resultantes e que tu poderias ajudar a resolver.
Assim, durante a minha formação no Conservatório e durante os anos que estive como actor, animador e professor na Companhia do Centro Cultural de Évora contribuíste Mário, como professor e director de ambas as instituições, como amigo e colega, para a construção de um percurso de vida, saudável mentalmente, porque sublimei através da minha aprendizagem teatral aquilo que poderia ter sido um stress pós-traumático de guerra, passaste-me valores, conhecimento, saber e, por isso, ajudaste a construir o meu futuro. Obrigado Mário.
04.Novembro.2006
Tão perto de nós, Évora e Portalegre assumem um itinerário destes eventos onde, para além da discussão teórica ou da formação, vamos assistindo a projectos teatrais diversificados e que consubstanciam, sobretudo, a perspectiva actualizante e interventiva da arte contemporânea, mesmo quando se representa um texto clássico.
O XV Festival de Teatro de Portalegre, organizado pela Companhia de Teatro de Portalegre “O Semeador”, habituou-nos a duas componentes interessantes: a da cooperação transfronteiriça, portanto o teatro vindo logo ali de Espanha e a cooperação lusófona, ora com companhias brasileiras, ora com companhias africanas de expressão portuguesa.
Os sacrifícios da CTP “O Semeador” têm vindo a aumentar ano após ano com a redução dos financiamentos para o evento. Creio mesmo que este ano só aconteceu porque a Câmara Municipal de Portalegre assumiu quase na totalidade os custos do festival.
Estes eventos são uma mais valia para as cidades onde decorrem: mediatizam-na e apresentam-na como cidade cultural. Ao mesmo tempo desenvolvem uma actividade económica e contribuem para o desenvolvimento local. Com tudo isto ganham também as Autarquias, quer na dimensão política, quer ainda na dimensão comunitária.
O Festival Internacional de Teatro de Portalegre iniciou-se a 19 de Novembro e decorrerá até 30.
Évora já institucionalizou o Encontro de Teatro Ibérico. Este ano decorrerá o IV Encontro entre 1 e 9 de Dezembro próximo. Para além de ser um evento cultural significativo, entre outros que o CENDREV mantém, este IV Encontro é, sobretudo, um fórum de discussão de estéticas e de práticas teatrais inovadoras. A enriquecer o quadro dos espectáculo que irão ser representados no Teatro Garcia de Resende, destacamos a estreia a 1 de Dezembro de “O Eunuco de Inês de Castro” do nosso amigo e colega Armando Nascimento Rosa.
Gostaria também de referir o XII Festival Internacional de Teatro ACERT de Tondela (FINTA de 1a 9 de Dezembro de 2006).
O ACERT de Tondela é uma referência nacional e internacional no panorama da descentralização teatral e da descentralização cultural tout court. Temos pena que Tondela esteja um pouco longe aqui do Alentejo, numa altura em que nos é difícil ausentar dos nossos compromissos académicos locais. Gostaríamos de ver alguns dos seus espectáculos que mostram inovação e transversalidade nas linguagens. Como diz o pessoal do ACERT: Dramático é perdê-lo…
Finalmente houve algum consenso sobre a designação dos cursos de Animação Sociocultural (mais uma informação que retirei do blog do José Vieira). Uma proposta do Ministério da Educação para as Escolas Profissionais. É uma medida acertada e lógica. Temos pena que o mesmo não tenha acontecido, e com a mesma facilidade, no Ensino Superior. Apesar de tudo, logo que os cursos estejam todos a funcionar sob a alçada de Bolonha, iremos verificar que houve alguma adesão à terminologia do curso em questão.
Carlos Costa! Você é o administrador ideal para o FLAMA DE VIDA! A passar essa gestão para outra pessoa, o seu blog será afinal outro…
Acreditamos que os seus intensos afazeres, acrescidos agora com responsabilidades na Rede Iberoamericana de ASC, lhe dêem menos espaço para estar connosco neste espaço. Você faz falta. É um lutador e um militante.
26.Novembro.2006
___________________________________
Este artigo foi escrito no início do passado mês de Agosto para ser publicado na Revista Alentejo que saiu agora em Novembro. Por uma falha de comunicação não foi possível torná-lo público. Salvaguardando as referências aos processos de candidaturas ao ensino superior, a sua actualidade e pertinência, legitima de facto a sua publicação.
O ENSINO SUPERIOR PÚBLICO NO ALENTEJOE O PROTOCOLO DE BOLONHA
ESTRATÉGIA REGIONAL OU SALVE-SE QUEM PUDER?
A filosofia do Processo de Bolonha assenta fundamentalmente neste princípio: na emergência de um sistema de desenvolvimento de competências, por oposição a um sistema de apropriação de conhecimentos actualmente em vigor em quase toda a Europa.
Para ser cumprido, este princípio sugere algumas regras comuns:
a) a primeira passa pela adopção de um sistema que facilite a leitura e a compreensão dos planos de estudo;
b) a segunda propõe que a estruturação desses planos de estudo deverá assentar em três ciclos de formação: o 1º Ciclo, que corresponderá a três ou quatro anos de formação inicial, no fim do qual se atribuirá o grau de licenciado; o 2º Ciclo, que decorrerá num ou dois anos, no fim do qual se atribuirá o grau de mestre e, finalmente, o 3º Ciclo que, entre cinco e seis anos atribuirá o grau de doutor;
c) a terceira regra estabelece a oportunidade da criação de um sistema de créditos, os chamados ECTES, que promove uma inserção mais extensa dos estudantes;
d) ainda uma quarta regra, que não deixa de ser relevante, é aquela que promove a mobilidade dos estudantes e dos professores pelo espaço europeu, no sentido de serem aproveitadas, por ambos, as melhores oportunidades de formação e/ou profissionalização.Sistematizaria estas regras numa questão essencial: o Processo de Bolonha visa aproximar, a nível europeu, entre outras coisas, os conteúdos disciplinares de forma a facilitar a mobilidade de estudantes e de professores. Mas visa, também, reduzir o número de cursos, obrigando as instituições a encontrarem uma maior aproximação na sua nomenclatura, para evitar uma enorme dispersão de títulos de cursos que vão, no fundo, preparar os mesmos profissionais para o mesmo mercado de trabalho.Sendo estes os pontos fundamentais resta-nos questionar sobre como irá ser em Portugal. Em primeiro lugar, depois de um período conturbado pela indefinição das políticas educativas e pela indecisão política nesta matéria, começa a desenhar-se o modelo europeu de ensino em Portugal. Todavia, não está a ser muito fácil, num contexto em que proliferam cursos que ninguém sabe para que servem, assim como cursos de nomenclaturas diferentes para a mesma função profissional e para o mesmo mercado de trabalho, como é por exemplo o caso, que conhecemos melhor, dos cursos de Animação Sociocultural. Por outro lado é toda uma mudança cultural que se irá processar, quer do ponto de vista do estudante, quer do ponto de vista do professor, isto é, para o aparecimento de um sistema de desenvolvimento de competências, aquele que enunciávamos no início como a filosofia do Processo de Bolonha, é necessário mudar, tout court, os hábitos de trabalho. Toda a formação desenhar-se-á na base de horas de contacto (com o professor) e horas não-lectivas (de estudo, de pesquisa, de organização, de intervenção, etc.). As primeiras, muitas vezes em menor número que as segundas, tornarão estas absolutamente relevantes do ponto de vista da avaliação.A situação, ou melhor, a revolução que se aproxima, deixa-nos algumas expectativas. A primeira é saber se, mesmo trabalhando afincadamente na organização dos cursos, como sugere Bolonha, não irá haver não só no seio europeu, mas também aqui mesmo em Portugal, instituições de primeira e instituições de segunda. A segunda expectativa é saber se os nossos estudantes serão bem aceites noutras instituições europeias, usufruindo delas as mesmas oportunidades académicas que os outros parceiros europeus. Finalmente a terceira expectativa, e que se traduz num problema social, é saber se o desemprego de professores não irá aumentar substancialmente. O lado positivo de toda esta questão, correndo o risco de nos contradizermos, é afirmar que, perante o funcionamento justo e correcto deste processo, Portugal e os portugueses encontram, uma vez mais, uma grande oportunidade para avançarem no seu desenvolvimento e na sua plena integração europeia.
O que temos vindo a dizer situa-se na base técnica que sustenta o Processo de Bolonha. Nalguns países europeus, assim como em Portugal, esta base técnica interfere objectivamente nas políticas educativas em vigor em cada um desses Estados, pelo que devem ser alteradas. As directrizes de Bolonha assentam na emergência de uma assunção política, por cada Estado membro, naquilo que é a definição de uma política comum europeia de ensino superior. Temos portanto, a nível europeu, uma enorme diversidade social, política, económica e cultural e que traduzirá diferentes formas de afirmar essa política comum.
Em Portugal, para além das decisões políticas a serem tomadas, temos realidades socioculturais bastante diferenciadas entre regiões e que fazem acentuar o fosso entre o litoral e as regiões do interior. É por quase todo o litoral que se dispersa o tecido empresarial e se concentra o tempo e o espaço das maiores oportunidades contratuais dos cidadãos. Para as regiões do interior, nomeadamente para o Alentejo, fica a ausência de investimento e acentua-se a desertificação.No ensino superior temos, pelo país, uma matriz de dois sub-sistemas: as universidades e os institutos politécnicos. Apesar das condições de acesso ao ensino superior serem exactamente as mesmas, há quem cultive a ideia de que o papel da Universidade, tendo em conta o seu peso histórico e cultural, deve acentuar as diferenças existentes entre esta e o Politécnico. Naturalmente que este discurso pressiona e predispõe para uma estratificação social no âmbito da procura. O corolário é alimentar a oferta na base desse pressuposto. Todavia, a prática e a história recente mostram-nos que as opções dos estudantes assentam em interesses de formação diversificada que, felizmente, se dispersam por todo o país, tanto pelas universidades como pelos politécnicos. A questão aqui não está, portanto, na dicotomia universidades/politécnicos, mas mais na proliferação de cursos. É verdade que muitas vezes são cursos com outros nomes, mas com planos de estudo quase idênticos e que conduzem para as mesmas saídas profissionais.
Se olharmos, como temos feito recentemente, para os espaços publicitários nos media, apresentados por algumas instituições de ensino superior público, politécnicos e universidades indiferentemente, verificamos uma agressividade na mensagem que sugere, a maioria das vezes, a existência do exercício de um melhor ensino, a criação de ilusões quanto às oportunidades europeias e até a garantia de emprego após conclusão do curso. As instituições do litoral utilizam estrategicamente estas leis do marketing para captar novos alunos. Enfim, com um conjunto de variáveis determinantes, seduzem facilmente os futuros estudantes do ensino superior face a essa diversidade sociocultural. O que fica daqui é que as instituições das regiões do interior, com as mesmas variáveis, mas supostamente de peso inferior, correm o risco de ser fortemente penalizadas e discriminadas.
Mas, não tenhamos ilusões, este marketing agressivo também existe, infelizmente, entre as instituições do interior e, muitas vezes, da mesma região. É verdade que a população estudantil está a diminuir, que a desertificação está muito presente e que estes problemas tocando num, tocará a todos naturalmente. A solidariedade regional e a nacional deveria estar presente na nossa cultura do quotidiano. Nas pessoas individualmente, mas também nas instituições e nas organizações.Temos, de ensino público na região do Alentejo, a Universidade de Évora e os Institutos Politécnicos de Beja, de Portalegre e de Setúbal e temos, seguramente, condições para se fomentar uma cooperação forte e sistemática entre estas instituições, na base também de uma estratégia de desenvolvimento para a região. Pela grandeza dos seus recursos materiais e humanos e pelo know how de cada uma destas instituições, em muitas e diversificadas áreas, parece-nos haver condições para o estabelecimento de uma associação que privilegie o intercâmbio e a mobilidade dos seus docentes e estudantes, que faça uma gestão regional dos cursos que cada instituição deve oferecer, tanto nas licenciaturas, como nos mestrados, de forma a garantirem públicos, diversificados, entre as quatro instituições, sabendo logo de partida que os doutoramentos são da exclusiva responsabilidade da Universidade.
Mas a cooperação entre estas instituições não se esgotaria nas questões de gestão corrente ou de sobrevivência académica, melhor dizendo. Estender-se-ia também através de um envolvimento comum em projectos de investigação científica, tecnológica, artística, social, e cultural, de âmbito regional, nacional e internacional. Isto só será possível pela riqueza da diversidade de formações dos seus docentes.
É urgente que as instituições públicas do ensino superior no Alentejo se sentem à mesma mesa e, com coragem política, discutam o seu futuro e o futuro colectivo da região. A discriminação positiva entre o litoral e o interior, que exigimos que o poder central realize a nosso favor, deve começar antes de tudo por nós, no próprio interior, neste caso no nosso Alentejo.
19.Novembro.2006
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Estava a ficar ansioso por me atrasar no escrito da semana. Habituei-me, comprometendo-me com os meus leitores, de que este ritual da escrita seria semanal. Todavia, há mais mundos para além deste e, portanto, as nossas preocupações dividem-se por muitos afazeres ou pela ausência deles.Finalmente concluímos na ESEP (Escola Superior de Educação de Portalegre) os dossiês de adequação a Bolonha dos cursos já existentes, assim como de outros a serem propostos pela primeira vez. Ficaram fora, para já, deste processo e deste momento, os cursos de formação de professores e de educadores. Foi uma maratona de diálogo, convergências e divergências, de reflexão, estudo, pesquisa e elaboração dos planos de estudo, assim como de toda a documentação justificativa.
Claro que o curso de Animação Sociocultural dominou toda a minha disponibilidade e empenho. Apesar das tais divergências, penso que é um Plano de Estudos equilibrado, eficaz, funcional, inovador e plural. Perfeito? Ideal? Não me parece que exista algum ou alguns e que isso seja a determinação das nossas vidas.Também avançámos com mais dois cursos completamente novos e inovadores. O primeiro na área das Artes e o segundo, com proposta dos dois ciclos, na área da Educação e Formação de Adultos.Através do site do José Vieira vou-me informando de uma problemática, que ele domina bastante bem, e que eu tento integrar nas minhas reflexões e preocupações: a juventude! Não sendo especialmente uma área da minha intervenção académica e pessoal, não deixa contudo de estar nas minhas preocupações. Estão a ser criadas, pelo que vejo, muitas oportunidades de crescimento intelectual, pessoal e profissional dos jovens, nomeadamente numa estratégia de universalidade e de aproximação entre povos e culturas. Bem hajas José Vieira por disponibilizares essa informação.
Da discussão nasce a luz! Isto é o senso comum, independentemente de muitas vezes não ser bem assim. Mas aceitando a frase como um incentivo, estão criadas as condições para, neste momento, e através deste equipamento e destes canais, reflectirmos sobre aquilo que nos interessa e sobre aquilo que achamos ser pertença da humanidade: a compreensão, a flexibilidade, a tolerância, o conhecimento, e por aí fora.
Esta realidade é enriquecida, seguramente, com o aparecimento destes espaços interactivos da comunicação entre as pessoas. Felicito por isso, o aparecimento do site do Rogério Duarte Silva, antigo aluno e novo companheiro nos percursos da Animação. Página atraente e inteligente nos conteúdos. Força amigo Rogério!
Mas mais páginas de Animação vão surgindo:
www.eneaorg.com.sapo.pt e www.eneaorg.blogspot.com e que dizem respeito a uma ideia de um Encontro Anual de Estudantes de Animação, como também a página dos alunos do 2º ano do Instituto Superior de Ciências Educativas http://animadoresplotv.blogspot.com/ .
O mais importante, para além do aparecimento dos sites, que não deixa de ser relevante, é o aproveitamento destes espaços para o estabelecimento de ideias, de trocas de experiências, de criação de espaços de mobilidade (preconizados por Bolonha), mas também de circuitos de solidariedade e de transmissão de valores democráticos.
Esta foi uma síntese que gostei de fazer…
14.Novembro.2006
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Ontem tive o privilégio de estar presente em Évora na festa de homenagem que o CENDREV, conjuntamente com muitos amigos de todo o país, quiseram fazer ao Mário Barradas.
Homem do Teatro e da Cultura, da Educação e da Política, o Mário é sobretudo uma referência para muitas gerações que com ele tiveram o privilégio de contactar, quer como alunos, actores e companheiros de ideais. O Mário está aí, por muito tempo seguramente, a dar-nos lições de vida e de cultura com a sua humildade e medo de protagonismos. Está aí como um encenador brilhante e que fica na História do Teatro em Portugal, mas também como actor inteligente nos registos e na expressão e comunicação de todo o seu talento.
Tinha coisas para lhe dizer e ali não era seguramente o lugar e a hora certa, mas nem por isso quis deixar de o fazer através desta carta, escrita no dia anterior e enviada para o CENDREV:
CARTA ABERTA AO MÁRIO BARRADAS
Meu Caro Mário Barradas
Amanhã estarei, com muitos amigos teus, junto de ti, a partilhar momentos de reconhecimento, de gratidão e de emoção certamente, pelo teu percurso de vida e pelos momentos em que ela se cruzou com outras vidas. Apesar de lá estar, não terei certamente possibilidade de te dizer pessoalmente estas palavras, uma vez que a tua atenção estará divida por muitos amigos e tu quererás, como sempre, estar atento a cada um deles.
Quero dizer-te Mário, creio que nunca to disse, tu foste a pessoa que, sem querer, traçou indubitavelmente o percurso da minha vida. Isso aconteceu porque acreditaste em mim, naquilo que eu poderia aprender e fazer, mas também porque não poderias fugir à singularidade dos teus gestos e das tuas convicções traduzidas em generosidade e solidariedade. Na altura em que era difícil entrar na Escola Superior de Teatro do Conservatório Nacional foste, no momento do exame de admissão, sensível ao meu desejo de aprender e fazer Teatro, mas sensível também a um jovem recém chegado da guerra colonial com todos os problemas emocionais daí resultantes e que tu poderias ajudar a resolver.
Assim, durante a minha formação no Conservatório e durante os anos que estive como actor, animador e professor na Companhia do Centro Cultural de Évora contribuíste Mário, como professor e director de ambas as instituições, como amigo e colega, para a construção de um percurso de vida, saudável mentalmente, porque sublimei através da minha aprendizagem teatral aquilo que poderia ter sido um stress pós-traumático de guerra, passaste-me valores, conhecimento, saber e, por isso, ajudaste a construir o meu futuro. Obrigado Mário.
04.Novembro.2006